Estou na
Dinamarca. Eu amo esse lugar, pois me sinto bem e me entendo mais ou menos bem
com o povo. O dinamarquês, diferente do alemão, sabe e segue as regras, mas sem
aquela burocracia
documentada-exagerada-papelada-e-chata-totalmente-desnecessária germânica.
Aqui na
ilha de Bornholm, sinto-me muito bem, apesar da cidadezinha onde estou
hospedado apresentar limitações que um lugarejo costuma ter. Entretanto, se
comparando com Altenkirchen, Rønne, é bem mais agradável. A proximidade com o mar, assim
como presença de pequenas praias, o relevo plano e a agradável arquitetura
medieval colaboram para o meu equiíbrio emocional. Mesmo amanhecendo por volta
das oito e escurecendo pouco depois das quatro da tarde, consigo aproveitar a
minha estadia.
Você deve estar se
perguntando como eu consigo sobreviver a esse inverno escuro e nublado, certo?
Bom, com muita luz. O
período de Natal é uma ótima desculpa para encher a casa de pisca-pisca e
velas. A palavra hygge, não possui
uma tradução precisa. A melhor maneira de entender esse termo é participando de
uma ceia de Natal dinamarquesa. Fomos convidados por um casal de amigos
próximos do meu PAIdrastro, os quais moram do outro lado da ilha (a vinte e
pouquinhos quilômetros da gente). Fiquei surpreso e positivamente admirado com
a decoração do ambiente, o qual parecia ter sido minuciosamente copiado de uma
renomada revista de design. Mamãe falou que o pessoal daqui cria o seu próprio
design, visto que o objetivo é sentir-se bem em um ambiente no qual você passa
a maior parte do ano. Acho justo.
Durante a ceia, tivemos
o famoso vinho quente, biscoitinhos e outras delícias com geleias dessas
frutinhas minúsculas que você nem sabia que existia de verdade, e muito menos
eu.
Dançamos todos de mãos
dadas e cantamos músicas típicas em dinamarquês. Como eu e minha mãe não
conhecíamos nenhuma, fizemos o maior esforço para dublar o que estava sendo
dito (e eu fiz minha estréia no lipsync
da RuPaul ao redor de uma árvore de Natal lindamente decorada).
Como se não bastasse
cantar ao redor do pinheiro, a roda se desfez e começaram a puxar o cordão de
oito pessoas de vinte a quase-sessenta-anos para dançarmos ao redor da casa.
Cozinha, quarto principal, banheiro,... nada passou despercebido durante a
brincadeira.
Eu amei aquela noite e
amei também estar na companhia daquelas pessoas, as quais se esforçavam para
falar comigo. Fiquei surpreso que conseguia entender uma porcentagem
considerável de dinamarquês. Minha mãe tá arrasando no idioma, ou como a gente
diz no Vale: “Lacrou!”, rsrs.
Depois de ser puxado
nesse cordão de Natal, chegou a hora dos presentes!
Mas calma, pois nenhum
presente tinha um destinatário específico! A segunda (e última) brincadeira da
noite, consistia em colocar todos os presentes que estavam debaixo da árvore em
cima da mesa. Depois disso, dois dadinhos brancos entravam em ação. Quem
tirasse um “seis”, tinha direito a pegar um presente da mesa. Um “três”
significava que os presentes eram passados para a pessoa sentada à sua direita.
Um “quatro”, e seus presentes iam para aquelx sentadx à esquerda.
Após vinte minutos, o
cronômetro apitava e parava tudo.
Mas calma, pois a
brincadeira continuava por mais vinte e poucos minutos. Entretanto, aquele que
tirasse um “seis”, tinha direito de pegar um presente de uma outra pessoa.
Após isso, chegou a tão
esperada hora de abrir os pacotes! Achei muito legal o fato dos presentes serem
úteis e neutros. Eu, por exemplo, acabei ganhando uma caneca bonitinha com o
mapa-mundi desenhado (achei minha cara, pois sou viajante e sem café não
consigo viver, rs) e uma caixa com mini bombons. Outros ganharam creme para as
mãos (super útil durante o inverno) e joguinhos de tabuleiro.
Nada muito caro, assim
não há diferença grande de valores e itens. Os dinamarqueses prezam muito pela
igualdade entre indivíduos, e isso inclui igualdade de gênero, orientação
sexual e racial. Tudo bem “Lei de Jante” por essas bandas.
Vi uma quantidade
considerável de pessoas fazendo esporte, apesar do tempo ruim. Corredores e
ciclistas com roupas térmicas, capacetes e óculos próprios (lembrando que a bicicleta
como meio de transporte faz parte da cultura dinamarquesa) povoavam as ruas frias
e cheias de vento.
Aqui venta. E muito.
Como o país encontra-se
entre o mar do Norte e o Báltico, ventos fazem parte do cotidiano local e
ninguém se deixa levar por isso. Com tanta ventania, me sinto dentro de um
clipe da Beyoncé, rsrs.
Mesmo sendo um país
pequeno, os dinamarqueses adoram hastear sua bandeira por todos os lugares e em
todas as ocasiões: aniversários, casamentos, etc.
Acho isso muito
engraçado, pois quando estive aqui pela primeira vez, pensei que estava
acontecendo uma partida de futebol, semelhante ao Brasil na Copa.
Nunca achei que esse pedacinho
do mundo poderia ser tão fascinante.
Um Feliz Natal a todos.. ou como se diz por essas bandas:
GOD JUL (pronuncia-se "gô iúl")
Comentários
Postar um comentário